Um estimado compositor e interprete de nossa música
Por Cássio Cavalcante/ Fotos: internet
Antonio
Pecci Filho, no último dia seis de julho neste ano de 2016, fez 70 anos. Parceiro,
amigo e irmão musical de um dos maiores poetas do mundo, Vinicíus de Moraes,
diz "Aproveitei Vinicius até o fim", porque moravam juntos e estava
no momento da morte do eterno parceiro. Cantor de uma carreira universal, faz
sucesso nos quatro cantos do mundo. Suas canções nos remetem de imediato a
importância de nossa MPB. O apelido foi dado pela mãe, começou cedo aos 14 anos
já tinha aulas de violão com Paulinho Nogueira, e em 1970, compôs, com Jorge
Bem Jor, seu primeiro grande sucesso, “Que Maravilha”. O papo de hoje é com o querido da Música
popular Brasileira, Toquinho.
Toquinho, nessas suas viagens, você sente
alguma variação de público de um lugar para outro?
Mais
ou menos porque hoje tem uma abrangência grande de público por todo meu lado
infantil, então tem umas gerações ai que deveriam estar com minhas músicas e
estão porque cresceram com a música infantil e a música infantil puxa todo
outro repertório então todas as gerações eu abranjo hoje. Desde os pequenos que
cantam canções infantis até os que cresceram com essas canções que hoje tem 40,
45 anos. Imagine uma pessoa que tem 40 anos não viu Vinícius de Moraes cantar
então você vê quanto tempo já passou “Aquarela” foi feita há 30, 31 anos, então
você vê que tem uma geração toda que cresceu com minha música que taí hoje já
adultos com filho e os filhos ouvindo as canções. Então tem uma coisa muito homogenia
assim no Brasil é um público de toda idade mesmo não tem isso de pessoas mais
velhas até as pessoas de meia idade. Por isso que te falei, e os filhos delas
estão crescendo e acompanhando o meu repertório. Com internet hoje tudo fica
mais fácil. Né?
Na sua carreira o que mais lhe marcou ao
longo desses 50 anos?
Olha
sempre defini minha carreira como estou fazendo hoje, você viu eu tocar aqui e
ficaria tocando até a hora do show, isso é que faz a diferença, gosto de tocar
eu gosto de cantar, gosto de tocar com músicos excelente como Proveta, como Anna
Setton que é uma grande cantora. Sinto prazer nisso, não estou aqui como
sacrifício. Estou aqui por prazer de tocar. Nem poderia, que dizer, estou quase
de férias mas o Ronald é meu amigo, me convidou, é um lugar que eu nem faria em
geral mas eu vim fazer por carinho mesmo e por vontade de tocar. Então trilhei
minha vida fazendo o que eu quis, entendeu, e tem assim momentos de grandes públicos.
Tive quatro momentos de grandes públicos um foi na Bahia, final de ano, no
Farol da Barra quatrocentas mil pessoas, depois em Roma com trezentas e
cinquenta mil pessoas, na Vila Burguês
lá em cima, agora no final do ano em São Paulo tinham dois milhões de pessoas
na Paulista. São momentos que realmente marcam, assim né, de você ver aquele público
todo na sua frente. Mas coisas assim negativas nenhuma. Eu me lembro só de
coisas muito boas de parcerias de curtições assim como você está vendo a gente
fazer aqui. Isso que estou fazendo com ele fazia com Vinícius. Fiz com Tom e com
grandes artistas. Então minha vida foi trabalhada mesmo por momentos favoráveis,
não tenho nada de ruim para falar e as coisas grandiosas foram a quantidade de
público porque gosto de fazer show aqui, como num lugar para trinta, quarenta
mil pessoas.
Você foi parceiro, mais do que isso, amigo de
um dos maiores poetas do mudo, Vinícius de Moraes, entre as tuas parcerias com
ele tem alguma predileta?
Sempre
tem alguma né, ai tem muitas no lance. Como numa cor, tem vários tipos de azul,
vários tipos de verdes. Tem uma que eu gosto muito de cantar “Tarde em Itapuã”
é uma canção que fica nova sempre que a gente canta. É bonita, o músico gosta,
o instrumentista exigente toca, a pessoa da família gosta. As gerações passam
ou vem e ela tem uma magia. Outras como “Regra Três”, foi uma canção que marcou
muito. Outras músicas que eu fiz com ele. Bom, o Vinicius foi um grande poeta
uma pessoa fantástica e eu convivi com ele e fui um grande privilegiado. Tive
muita sorte nesse sentido de conviver com ele de uma forma tão íntima e ter
aproveitado isso de uma maneira tão honesta, tão direita e ficou muita coisa
boa. Fizemos o que podemos fazer em dez anos de parceria foi um fecho
maravilhoso. A morte dele encerrou uma parceria e foi tirada o máximo possível
dela.
Vinicius de Moraes e toquinho
Outro nome da nossa música que você foi amigo,
tocou com ela, foi Nara Leão. Eu queria que você contasse para a gente o que
foi essa cantora para a Música Popular Brasileira?
Nara
Leão foi importantíssima para música brasileira. Foi talvez uma das interpretes
mais importantes que nós tivemos. Ela foi muito bem orientada, sempre se cercou
de pessoas importantes e pessoas que sabiam bastante. O Carlos Lyra foi um
grande orientador dela. O próprio Vinícius, enfim, Edu Lobo, Dori Caymmi. Ela
trouxe para música brasileira o morro, e isso não é brincadeira. Ela trouxe Zé
Keti para a música brasileira. A Bossa Nova era um movimento preconceituoso, e
ela era a musa da bossa porque tinha um radar.
Trouxe o Chico Buarque para a música, foi a primeira a gravar o Chico
Buarque. Ela detectava as pessoas, gravou Sidney Miller, Paulinho da Viola.
Trouxe o show “Opinião”, o “Pobre menina rica”, que ela fez com Carlos Lyra, Foi
talvez a cantora mais importante da música brasileira não no sentido técnico
vocal mas no sentido de visão no comportamento musical ela trouxe as pessoas
certas para a música brasileira e rompeu com os preconceitos que a Bossa nova
tinha. Junto com Carlos Lyra. Nara teve essa importância enorme de detectar os
valores que estavam surgindo emergentes e ter coragem de assumir esses valores
então essa é a grande importância da Nara Leão.
Toquinho, Nara leão e Wilson Simonal
Você tem muitos sucessos. Acho que a Música
Popular Brasileira tem em Toquinho um dos principais compositores e
interpretes. Mas um sucesso teu que eu tenho a certeza que agrada de um ano a
cem anos de idade, é “Aquarela”. Queria que você contasse para a gente como foi
a história de “Aquarela”, como foi que ela surgiu?
“Aquarela”
é um mistério, que musicalmente tem uma emoção nela que abrange tudo, a
criatividade da criança, a emoção do adulto, o fatalismo da vida. Tudo de uma
forma meio lúdica colocada na música, é um mistério. Teria tudo para não fazer
sucesso, ela é longa tem uma letra enorme não tem refrão que as pessoas cantam.
É só uma canção. Tem uma magia nela. Certos sucessos que a gente não pode
explicar, esse é um deles. Depois que de feita, foi um grande sucesso na Itália
eu não ia gravar no Brasil. Achei que não ia acontecer nada nessa música, acho
que teve uma empatia com o público italiano. Quando gravei aqui ia colocar ela
na última música do disco. Aí o pessoal do estúdio começou a chamar outras
pessoas quando estava colocando voz, o pessoal ficou ouvindo no estúdio quando
eu acabei de fazer, os caras falaram: “Meu Deus que musica é essa!”. Falei: “Vocês gostaram?” Responderam: “Nossa!
Essa música é linda”. Falei: “Mas que estranho, vocês gostaram mesmo”. Comecei a
ver que ela tinha alguma coisa. Quando acabei, chamavam as pessoas para ouvir
no estúdio. Vi que tinha uma força. O disco chamou “Aquarela” e foi uma
surpresa para mim, o grande sucesso que fez em todos os países. Agora eu repito para você,
tem certos sucessos e certas coisas que acontecem com a arte que não tem muitas
explicações “Aquarela”, é uma delas.
Para terminar como é que você analisa a música
popular brasileira hoje?
A Música
Popular Brasileira é riquíssima, tem tudo, tem as coisas, todos os tipos de
ritmo. Os compositores da minha geração tão aí heroicamente fazendo canções
ainda cantando. Já com setenta anos de idade todos ai brilhando ainda: Gil, Caetano,
Djavan, Chico Buarque, Paulinho da Viola. O próprio aqui que vos fala. A música
brasileira é muito rica, minha geração foi muito forte e continua crescendo com
todas influencias que tem do mundo todo. Com a internet tudo taí, viva. Principalmente
fora do Brasil e a música brasileira é
rica, tem sertanejo bom, tem rock bom, tem MPB boa, tem sambista bom, tem axé
bom e a gente tem que curtir tudo em cada momento no momento de cada gênero.